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O Punk Para Mim?


Sempre fui um cara de temperamento bastante introvertido, com sinais de hiperatividade, eu tinha dificuldade de me socializar e na escola era um pouco fora dos padrões eram considerados “normais” pois como todo adolescente eu queria me encaixar em algum grupo e ter alguma identidade, mas não era aceito e as pessoas na escola me olhavam com gozação ou com desprezo, o que me gerava muita revolta, então algum tempo depois quando descobri o rock'n roll e logo em seguida o "punk rock", foi ai que comecei a lapidar a minha identidade,  isso aflorou bastante os meus dotes artísticos inseridos nesse contexto de arte mais a margem do comercial que o "rock pauleira" trazia e junto com a rebeldia do punk gerou uma força arrasadora, essa força que contagia a gente, nos faz assumir quem somos e sem se prender a padrões imposto pela sociedade, o punk sempre me fez questionar tudo, todo esse som rápido, a forma de fazer arte no improviso, as atitudes e comportamentos mais rebeldes me encantavam, naquele momento senti que isso era muito algo maior e que essa coisa de "punk" veio para ficar e que não seria só uma fase de adolescente, então todo esse momento veio bem a calhar,  fui crescendo e isso foi virando parte da minha personalidade, ser punk é muito mais que um visual, é expressar sua raiva, o seu descontentamento seja com o governo, a sociedade que vivemos e todas as suas formas de opressão e dominação, o punk te leva a lugares profundos te faz estudar história, filosofia e até literatura, faz você se jogar e se expressar de uma forma mais crua e sincera, passei a pesquisar muita coisa sobre o movimento, ler livros, fanzines, as ouvir as bandas americanas (Ramones, Bad Brains, Bad Religion, Dead Kennedys) , finlandesas (Terveet Kadet, Lama, Kaaos, Rattus), inglesas (Discharge, GBH, The Adicts, The Damned) comecei a me envolver com música e fui me moldando, vivenciando e descobrindo a própria cultura Punk, o tempo foi passando, fui amadurecendo e descobrindo outras perspectivas, eu nunca fui aquele tipo de punk “porra louca” que andava todo cheio de acessórios e que causava geral, as vezes nos rolês rolavam umas coisas que me incomodavam, como por exemplo pessoas tentando ditar regras ou um modo de ser punk, confesso que isso me irritava bastante, mas nunca deixei meu braço a torcer, pois ao meu ver o punk é uma cultura subjetiva que muitas vezes é difícil de moldar e de definir, e isso me fez buscar interpretar o movimento da minha forma,  nunca quis me rotular a nada dentro do movimento, eu me considero mais um "simpatizante empolgado",  pra mim o maior alicerce que construiu o movimento é o lema do “Faça você Mesmo” porque é onde surgiu toda a essência, sobreviver no underground, da seus pulos e fazer acontecer, isso ta enfiado na minha mente desde moleque, aliás ser punk no nordeste é um desafio em tanto, são muitos caminhos sinuosos a percorrer, estamos inseridos em muitas dificuldades sócio-econômicas e culturais, o nordeste é gigante, somos do sertão, vivemos embaixo de tudo, e estamos sempre nos reinventando e lutando a cada segundo, por isso que eu digo que o movimento punk só fica quem realmente ama a causa, eu posso não ter sido aquele punkzão fodástico e louco, mas eu sempre estive presente em relação a posicionamentos politicos e  uma postura coerente e fiel dentro do punk desde o início da minha caminhada sem ficar passando pano para ideologias reacionárias que já corromperam muitos pelo caminho, por isso sempre reafirmo meu compromisso no punk não deixar morrer a causa, sempre lutar e nunca desistir, como um artista, um apaixonado pelo que faço e uso a minha criatividade, minha musicalidade, juntamente com a agressividade e a energia que o punk me traz, com muita atitude trago esse fator político que é muito importante assim como a estruturação pessoal, ser autodidata, buscar seus próprios meios, falar menos e fazer mais, sempre fazer a coisa acontecer, dentro do punk eu aprecio muito a filosofia existencialista, dependendo do meu estado emocional as vezes ou um pouco niilista, critico muito a pós modernidade, essas novas formas de alienação social, sem contar que a vida na selva urbana é muito complicada pois o século XXI só está começando as podreiras, pois os preconceitos como bullying, racismo, e toda essa porcaria que destrói o nosso mundo estão mais vivos do que nunca e temos que combater, aprendi como fazer uma música simples e direta e fazer o melhor com meus próprios recursos, o punk me ensinou que também temos que mostrar agressividade sonora e visual,  e claro aprendi muito com o punk nacional que foi a minha maior escola, bandas que me influenciaram e que influenciam até hoje como Cólera, Os Replicantes, Câmbio Negro HC, Cama de jornal, Ratos de Porão e inocentes, suas músicas pregam o pacifismo, a preservação do meio ambiente, contra a exploração da tecnologia e capital humano, humildade, atitude empatia e claro bom humor e diversão. O punk pra mim é sim uma cultura (contracultura), pois nele a gente tem liberdade de ser a gente mesmo, com a música, o visual, as produções, que são ferramentas de combate e resistência, um expressar sincero com autonomia. Eu sou apaixonado pelo punk, as vezes eu nem tenho palavras para definir, pois ele te ajuda de uma certa forma a se libertar das suas angustias, livre expressar seja o jeito que for, sem regras, sem partidos, sem rebanhos e sem policiamentos, qual a dificuldade de falarmos sobre quem somos? o punk é a força que vai resistir enquanto esse mundo não acabar.

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